18 de nov. de 2013

Estamos em Transição ?

Se você olhar com atenção, vai perceber no noticiário diário, que a nossa teia social esta se perdendo, se dissolvendo. Isso se concretiza no avanço das drogas, que agora se especializa por faixas de poder aquisitivo, o avanço da violência que agora esta em todos os seguimentos da sociedade, desde a domestica até as escolas, o desinteresse pela cultura, o aumento na ineficiência do estado, a corrupção generalizada, etc. Infelizmente este é um processo em andamento. Um processo que vem em andamento já a um bom tempo!.

Pensando com os meus botões, voltei para a minha infância e para a educação que recebi. Quando falo em educação, falo em um todo, um conjunto de informações, não só o conhecimento específico, como Física, Química, etc. Eu me refiro alem dessas, o que você aprendia com os seus pais, em especial com a sua mãe, aquela época muito presente na vida dos filhos, pois pouquíssimas trabalhavam.

Na minha infância me foi passado que eu tinha que respeitar os mais velhos. Isso significava tomar a benção aos meus avós e padrinhos. Dar o lugar quando sentado as senhoras e senhores mais velhos. Ajudá-los sempre que necessário. Aprendi com eles, os mais velhos, a importância de se ler. O meu avô paterno me levou a ler O Capital de Karl Max, Minha Luta de Adolfo Hitler, bem como Kant, os russos e outras coisas. Ele dizia ser importante você ler de tudo, para dai formar a sua opinião. Um amigo de meu irmão me introduziu na ficção cientifica. Fiquei fascinado por Edgar Alan Poe, Conan Doyle, bem como Aldous Huxley e Issac Asimov. Li sobre as religiões. Dos monges do Tibe a Alan Kardec. Este foi um habito que nunca perdi. Ler. 

Leio tudo que aparece na minha frente. Até poucos anos atrás, tinha o cuidado, de tempos em tempos, de comprar uma revista sobre arquitetura, outra sobre arte, etc, como forma de me manter atualizado sobre cada assunto.

Aprendi a respeitar a pátria e os seus símbolos. Os colégios onde estudei, aquela época, no primário na admissão e no ginásio, nos rezávamos todos os dias antes do inicio das aulas, comemorávamos o dia da bandeira, da independência, etc. Aprendíamos os hinos da bandeira, do Brasil, das três armas – o que eu mais gostava era o da marinha, O Cisne Branco.

Aprendíamos a respeitar o próximo. Os professores eram respeitados, por que em casa nos era dito para assim fazermos. Se você tinha um problema na escola, com certeza iria ter um problema em casa com seus pais. Os conflitos com colegas de turma eram resolvidos na diretoria da escola. Normalmente quem estava errado, tendo que pedir desculpas ao outro. Estudávamos religião, mais também, historia da arte e civilidade. Praticávamos esportes. Aprendíamos a importância de competir porem com lealdade, o que Paulo Coelho chamou mais tarde de bom combate. Trapaças eram punidas com rigor.

Existia a Feira de Ciências e os Jogos Colegiais. Quase todo mundo praticava um esporte. Tínhamos a Gincana. A feira das Nações. As campanhas de doação de sangue. As escolas públicas eram referencia no ensino, ou seja, não era por ser pobre que você teria um ensino medíocre. Íamos a museus e a vernissages. Discutíamos o trabalho de jovens pintores. Assistir alguns crescerem em sua arte, acompanhando as suas fases.

Aprendíamos a nos manter limpos e arrumados. Havia uma roupa certa para cada ocasião. Casamento de paletó. Baile de final de ano de Smoking ou Summer. Mesmo os mais pobres obedeciam a isso. A minha avó materna nos dizia - Mesmo que a camisa seja velha, se ela estiver limpa e passada, você esta bem. Todos verão que você pode não ter dinheiro para comprar uma camisa nova, mais é educado o bastante para andar com ela limpa e passada. Ninguém andava na rua, pobre ou rico com a camisa desabotoada e muito menos, sem camisa. Se assim o fizesse, seria parado imediatamente pela polícia. Havia um respeito pela “ordem pública” e o decoro.

As drogas eram divididas em duas categorias. A maconha, que era coisa de “maconheiro” ou seja, para a ralé e as drogas pesadas, que na minha juventude era usada por uns poucos muito ricos, que eram intitulados de “loucos”. Ser chamado de maconheiro era pejorativo. Assim, fumei maconha pela primeira vez com o pessoal da peça Hair, para não parecer careta. Não gostei. Deixou-me prostrado, sem energia. As outras nunca tive coragem de provar, por medo de gostar e por consequência me viciar. O negócio era beber. Por causa disso perdi alguns amigos. Nessa época não existia cinto de segurança. Porém bebíamos em finais de semana, nas festas. Havia um certo ritual. Não se bebia a qualquer hora, ou em qualquer lugar.

Naquela época se dava festa, em certa época chamadas de “assustados”. Vivíamos, na escola, no clube, na casa dos amigos e parentes. Podia-se brincar na rua. Havia muito contato pessoal. Na adolescência, muito papo cabeça, principalmente quando descobrimos Freud e Jung. Lembro de uma festa, onde eu e mais dois amigos, amanhecemos o dia discutindo o conceito de Deus. As namoradas dormindo nos sofás da casa. Lembro de outra festa, onde um tio de minha amiga, diplomata já com longa carreira, monopolizou a nossa atenção com as suas histórias de vida. Ao longo da noite se falou sobre arte, música, literatura, etc. Ótima noite. Aquela época, assim como agora tínhamos amigos. Porem amigos com quem convivíamos pessoalmente. E amigos com interesses! Era gente animada com a vida, cheia de projetos e sonhos. Não me lembro nessa época de saber de meninas obesas mórbidas ou com bulimia.

Agora chega do passado e vamos olhar essas mesmas coisas hoje e vistas de uma forma abrangente.

Passado o regime de exceção e montada a nossa nova realidade, o que temos hoje?

Não precisa ser nenhum gênio para ver que tudo isso mudou e mudou para muito pior. A ordem pública e o decoro foram perdidos. Ninguém respeita os mais velhos. Implantou-se na sociedade, a Lei de Gerson. As escolas, hoje mal conseguem prover o conhecimento específico. Estão preocupadas é com os boletos das mensalidades. A cultura de uma forma geral, perdeu a importância. A maior prova disso é o orçamento do Ministério da Cultura e as pessoas que são nomeadas para ele. Se você prestar atenção nas fotos publicadas nas revistas de decoração, você não verá mais nenhum quadro. Nenhuma tela, ou peça de arte. As pessoas por não terem adquirido cultura, delegam a decoradora, a função de preencher os espaços vazios nas paredes. Isso cria situações como a que vivi com uma amiga. Em seu aniversário, a presentei com um quadro. Quadro mesmo, original. O comentário dela foi: minha decoradora vai adorar, pois ela estava querendo alguma coisa colorida para colocar naquela parede.

Sei que o comentário dela foi sincero. Não é impressionante? 

Não existe o respeito pelos mais velhos, e o que pior o respeito pelos pais. Ser educado, hoje é ser babaca !! Você pode comprovar isso em qualquer transporte público. O índice de estupro sobe ano a ano. Na realidade se perdeu o respeito por qualquer coisa. 

A juventude não tem o que fazer, a não ser ir pro Shopping. Isso se tiverem condição financeira para tanto. A diversão fora o shopping é a balada. A droga rola solta. Nas escolas não existem outras atividades extracurriculares. 

Na coisa pública reina o caos. Nada mais funciona e tudo virou negócio de família. Agora é moda o pai ser Senador o filho Deputado Federal o sobrinho Deputado Estadual, a prima Vereadora e por ai vai. As verbas publicas agora são privadas. Todos os dias aparecem na imprensa historias impressionantes. Ninguém em cargo de chefia, tem a menor preocupação em administrar nada. Quando acontece algum problema, acreditam que simplesmente explicar o que aconteceu e dizer que será tomado providências resolve. A carga tributária vem aumentando continuamente e os serviços e infraestrutura vem se deteriorando cada vez mais. O nível de roubo é assustador, isso sem considerar o uso da estrutura pública em benefício próprio. Um exemplo primoroso disso é o gasto com os nossos Senadores e Deputados. Um dos congressos mais caros do mundo. A Previdência é um rombo, o SUS um sumidouro de dinheiro e por ai vai.

Uma coisa que esta em moda atualmente é a questão do regime militar. Não me preocupa passar a limpo o passada, pois nos dois lados não existiam santos. De um lado a tortura se justificava para salvar a pátria do perigo comunista, e do outro, soltar bomba e assaltar banco se justificava para financiar a implantação de uma ditadura, sim ditadura comunista. O que Cuba é?

O que me preocupa é a aniquilação de todos os meios que a sociedade civil tinha de se manifestar. Hoje, entidades que no passado tinham representatividade, como a UNE, a OAB, o CREA e muitos outros se calaram. A imprensa nem se fala. Hoje estão preocupados ou de pressionar o governo atrás de verba de propaganda ou de atrair o publico para poder vender caro os espaços publicitários. Uma pergunta; para que o governo precisa gastar mais de um bilhão de reais em propaganda todos os anos? A quem interessa isso?

Essas organizações são hoje uma pálida sombra do passado, para usar um bordão. Em cada uma delas impera a Lei de Gerson, ou seja, olham para elas mesmas e seus dirigentes têm interesses próprios. Os sindicatos nem se fala. Dos 125.000 cargos de confiança do governo federal, eles detêm mais de 65%. Abrir um sindicato hoje é um ótimo negócio.

Podia ficar aqui escrevendo sem parar por dias. Exemplos de corrupção, impunidade, desmandos com a coisa publica, falta de respeito ao cidadão, exemplos de ineficiência, etc. são diários na mídia e fora dela.

Zigmunt Bauman diz que não sabe se estamos em uma fase de transição para uma nova sociedade, com nova ordem social ou se o que vivemos, será um estado permanente. Eu rezo para que a primeira hipótese seja a verdadeira.

Um último comentário:
Precisamos nos lembrar, que para haver mudança, tem que existir o agente da mudança.

Pensem nisso!!

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