A Análise do Fato.
Na ótica de Gustavo Krause.
Pensador Alforriado.
Esta página destina-se a reflexão do(s) fato(s) relevante(s) e atemporal(ais) que permeia(m) a contemporaneidade.
AS ELEIÇÕES E O
ACENDEDOR DE POSTES
“Eu sou o segundo
poste”. Assim se definiu o prefeito paulista Fernando Hadadd em meio à euforia
da comemoração da vitória no pleito de 2012. As referências implícitas eram
facilmente decifráveis: o primeiro poste foi a presidente Dilma; o autor das
proezas o grão-mestre da política brasileiro Lula da Silva que prepara o
terceiro poste, se é que se sustenta em pé, o ex-ministro da saúde Alexandre
Padilha.
Com efeito, o eleitor
brasileiro já se viu diante de duas “teorias” eleitorais: a do poste e a do andor.
Ambas têm um traço em comum: dependem para o êxito nas urnas da força política
de um líder ou de um conjunto de forças que carregam, tanto num caso, como no
outro um candidato “pesado” e sem luz própria. Pode dar certo ou não, mas, no
caso de vitória explicação é simples: o candidato não ganhou, ganharam por ele
e, a partir da posse, trate de iluminar seu próprio caminho.
Importante não esquecer
que a “invenção do poste” tem origem numa das inúmeras tiradas mordazes de
Delfim Netto que mandou bala em Fernando Henrique: “Se um poste disputar com
Fernando Henrique tem grandes chances de ganhar. Mas se derem nome ao poste, FH
se elege sem fazer força”. Deram nome ao poste, Lula, o neo-amigo de Delfim,
que perdeu duas eleições para FHC.
Bom, mas isso é passado.
O que interessa são os postes atuais, o maior deles que é a presidente Dilma.
O poste não acendeu. Sob
uma conjuntura econômica favorável, ampla base política, vitaminada com o apelo
eleitoral do dinheiro público sob forma de “bolsas”, montada no Estado
aparelhado de fio a pavio, e desfrutando de um animador de comício com retórica
populista, a candidata venceu a eleição. O Brasil estava diante de mais uma
promessa de Lula: a “gerentona” que levaria o país à terra prometida.
Repita-se: o poste não
acendeu. A herança maldita no plano ético exigiu atividades comparadas a de uma
faxineira que encantou a classe média. Bom começo. No entanto, com o passar do
tempo, a experiência mostrou que não houve faxina que desse jeito. O Estado
brasileiro foi capturado, cupinizado em setores e estatais nunca dantes
imaginados e, na mesma toada, a Presidente provocou um apagão na política,
erodiu os fundamentos da economia e, ao manter imobilizadas as reformas
estruturais, jogou uma densa nuvem de incerteza na esperança dos brasileiros.
Um curto-circuito nos
fios desencapados da insatisfação represada provocou, em junho de 2103, um
choque de alta voltagem na sociedade. Não se sabe para onde caminha esta
situação do ponto de vista político-eleitoral. Uma coisa é certa: as
manifestações de rua ratificam um sentimento majoritário de mudança.
Resultado: acendeu a luz
amarela para o longevo projeto de poder engendrado pelo lulopetismo. E agora?
Uma solução: “Volta, Lula!” Surpresa? Para mim, nenhuma. Diante das opiniões
discordantes da hipótese, analisava, em primeiro lugar, o perfil do caudilho
que vive do poder, para o poder e, mesmo quando morre, sobrevive sob a forma de
mito; em segundo lugar, porque a soberba de quem resdescobriu e reinventou o
Brasil, alimenta o ego e canta aos ouvidos do condutor de massas “eu sou a
força”; terceiro, porque o messianismo (fonte de inspiração de candidatos e
movimentos sociais no Brasil) é filho do velho sebastianismo lusitano que
esperou por muito tempo a volta do salvador, o Rei D. Sebastião que morreu
lutando contra os mouros, em 1578, na batalha de Alcácer-Quibir. Atenção: Lula
está, felizmente, mais vivo do que nunca. Só pensa naquilo: entrar em campo
como solução para a manutenção do projeto de poder e, espero, não seja rebatizado
com nome Luiz Inácio lula Sebastião da Silva.
No Brasil houve um tempo
em que, no crepúsculo vespertino, o acendedor de lampiões, não passou
despercebido pelo poeta alagoano Jorge de Lima que, assim, definiu sua função:
“Parodiar o sol e associar-lhe à lua, quando a sombra da noite da noite
enegrece o poente!”
No Brasil atual, a conta
salgada da energia elétrica tirou de cena o “acendedor de lampiões”. Por sua
vez, o eleitor bem que poderia eliminar o “acendedor de postes” ou evitar que
Lula seja o poste de si mesmo.
Publicada em 05-05-2014.
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ADORO CELULITE
A vida é dureza. Sempre
foi. Cada vez mais. Hoje em dia, invade a casa da gente. Rádio, televisão e a
hipnose da família eletrônica dos “I”, “Face”, “WattsApp” nos levam a prestar
menos atenção ao próximo mais próximo. Em matéria de informação o que nos chega
é a violência nas mais variadas e requintadas formas; a corrupção organizada
pelos homens do colarinho branco, amarelado pelo suor fétido dos seus usuários
rechonchudos; tome imposto de verdade e engula a mentira dos serviços públicos.
O jeito é falar de
moleza. Moleza inocente. Natural. Na maioria das vezes, herdadas. Vem no DNA. É
mole e atormenta quem não merece: as mulheres. E atende por um nome
assustador: celulite. Um terror que se localiza nas redondezas da região glútea
e, dependendo do caso, se espalha pela parte posterior das coxas. As magrinhas
não estão imunes às ondulações do tecido fibroso que nem casca de laranja.
No começo da década de
noventa, em parceria com o famoso J. Michiles, nasceu a marchinha cujo refrão é
o seguinte: “Gordinha, linda Afrodite/parei no seu it de anjo barroco/você me
deixa louco com seu apetite/acredite/adoro celulite!”. Criamos o bloco. Disputa
acirrada para escolher a porta-bandeira (quem ganhou? Segredo de confissão).
Quase sai tapa. O bloco era curtição e somente uma vez foi às ruas. A preguiça
era muito grande. A gente anunciava todo ano a presença de celebridades (Jô
Soares, Wilza Carla) e, no clima de carnaval,...tudo era fantasia. Mas as
portadoras de celulite estavam de alma e tecido adiposo lavados: o frevo-canção
era uma resposta ao Bloco da Malhação da academia da saudosa Jandira Airam,
letra de minha autoria, musicada, adivinhem por quem? O doce amigo e notável
compositor Luiz Bandeira. Refrão: “Malha, menina!/menina, malha!/fica durinha
senão encalha!” Quase linchado, fui perdoado com a apologia à celulite.
Bem, a celulite é a
saúva do século XXI: ou se acaba com ela ou ela põe em risco o sexo
feminino. Tem receita de todo tipo: fórmulas caras, “cientifícas”, naturais,
soluções caseiras (manteiga de cacau com açúcar e pó de café, eca!, banho de
algas, três copos ao dia de suco de limão e pimenta caiena, a couve
milagrosa e por aí vai).
E haja maluquice. As
loucademias de ginásticas são verdadeiros sanatórios que fabricam a neurose da
“mulher perfeita” (para ela e o espelho, espelho meu), o ideal da Vênus
calipígia (com todo respeito) de bunda dura e pacientes de ortopedistas e
fisioterapeutas.
Aliás, “A bunda dura” é
um artigo atribuído (?) a Arnaldo Jabor e leitura recomendável para auxiliar o
tratamento psicanalítico no mundo que glorifica os “máximos”; canoniza a
aparência; subestima a essência; e, para mergulhar na inconsciência, consome,
adoidado, pílulas para dormir, para acordar, para sorrir, para sentir prazeres
em escala negada pela natureza. Somos vítimas da civilização do medo
generalizado em fuga permanente do real que dói, maltrata, mas que precisa ser
enfrentado.
Ora, a mulher não
precisa ser dura, nem mole; não precisa ser uma estátua de charme; não precisa
se redesenhar a cada década passada; basta ser mulher no corpo cuidado,
adequado a cada idade e sem perder o viço interior do senso de humor e do amor;
manter acesa a luz de uma sabedoria que emana dos sentimentos da maternidade;
mulher que ria, faça rir e que tenha idéias mais longas do que os cabelos. Esta
escultura da alma feminina jamais perderá a graça e a capacidade de sedução.
E nós homens, fracotes,
como precisamos delas. Precisamos daquela metade que na narrativa da obra
platônica, o “Banquete”, é separada do ser original completo e, a partir de
então, vaga pelo mundo em busca da outra metade.
Encontrando, amigas, é
prudente relevar o desleixo do toalha molhada em cima da cama; de mijar no
assento do vaso sanitário; de jogar a pelada regada a cerveja, conversando
leseira. Encontrando, amigos, vale sentir no corpo da mulher, o suave
aconchego, revestido pela gordurinha localizada e pela indesejada celulite. E
todo dia, repetir, em tom de prece, o que diz o cancioneiro “Meu amigo, se
ajeite comigo e dê graças a Deus”.
Publicada em 10-04-2014.
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EMBROMAR E CONVENCER
Existe muita gente
disposta a embromar e um número de embromáveis infinitamente maior. Trata-se de
uma luta desigual entre vigaristas e pessoas de boa fé, os otários, na
linguagem dos criminosos.
Por falar em linguagem,
o leitor pode ficar sossegado: tenho juízo suficiente para não ir além do
trivial. Nada de entrar na semiótica de notáveis teóricos como Peirce,
Saussure, Umberto Ecco, etc... Muito menos profanar as ideias de Aristóteles
sobre retórica, lógica, dialética, poética e suas relações com a metafísica, a
política e a ética que o passar dos milênios absorveu e reverencia.
Vou simplificar. Ou
seja, pensar um pouco nessas categorias tão presentes no nosso cotidiano como a
nutritiva mistura do feijão com arroz.
Mas vamos pensar,
tentando identificar quem ilude e os sintomas da farsa da embromação.
Por definição, seja
astúcia, embuste, mentira, ardil, em maior ou menor escala, pecado venial ou
mortal, ninguém pode atirar a primeira pedra contra o embromador. O que
interessa é a grande embromação, a embromação dos que têm o poder de atingir o
respeitável público a exemplo de líderes políticos, empresariais, grandes
executivos, jornalistas, técnicos de futebol, enfim, todo e qualquer profissional
que, ao lidar com a opinião pública, engana e do engano obtêm proveito ilícito
ou aparentemente lícito.
Em comum, eles tratam o respeitável público como idiotas.
Infelizmente, não foi
descoberta uma vacina. A gente só se dá conta depois. Eita! Bateram minha
carteira.
Todavia, alguns sinais ajudam na proteção coletiva:
- A pedra de toque do
discurso do embromador é o jargão. Ele usa com a grave solenidade como se fosse
o dono (cuidado com o discurso “moderno” da “governança corporativa” dos CEOs);
- o discurso do
embromador é sempre uma exaltação aos “conhecimentos especializados”, usando
termos técnicos em moda, se possível, em outros idiomas;
- para o embromador,
importante é impressionar. Um rolando lero elegante. Impressionou, enganou o besta;
- o discurso do
embromador tem algo de obscuro, melhor dizendo, misterioso. Na vida laica,
mistério é ilusionismo;
- no conjunto da obra, o
discurso impressionista é uma espécie de “turbina intelectual”. É um arretado!
Sabe tudo. A plateia baba.
Mas não sejamos tão
inclementes. Existe o outro lado da moeda que é o discurso do convencimento:
- é breve e fundamentado em fatos consistentes;
- é objetivo, claro e conquista pela forma e pelo conteúdo;
- é próximo das pessoas
e a proximidade se alimenta de “histórias” que contêm grandezas e fraquezas.
Ninguém aguenta os “heróis” que jamais levaram porrada;
- é, na dose certa, bem
humorado. É preciso não se levar muito a sério para levar a sério tudo que faz;
- quem convence não
precisa optar entre ser chato um autêntico ou um simpático artificial. Estilo
não se inventa e as pesquisas sobre o assunto indicam que a comunicação
convincente deriva 7% das palavras e 93% de pistas não-verbais.
Resta uma grande
questão: diante de um escândalo de dimensão nacional, internacional,
multinacional, como agir? Simples: contratar a maior consultoria do Planeta em
embromação: a BRASILBRÁS.
Publicada em 31-03-2014.
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