20 de nov. de 2013

“Há apenas uma única religião, embora dela exista uma centena de versões”. Bernard Shaw

Eu sempre acreditei que religião é coisa de foro intimo. No que quer que seja que você acredite, isso deve permanecer com você. Isso porque se eu acredito em Jesus e você acredita em Maomé, por exemplo, não existe forma de nos provarmos quem esta certo! É coisa de fé.

Durante a ocupação Moura (771 a 1492) na península ibérica, os árabes permitiam a Cristãos e Judeus terem os seus próprios templos. Eles eram tolerantes com a religião e sob este aspecto, durante todos aqueles anos, não existiu quase nenhum conflito. Acontece que esse exemplo é raro na história da humanidade. O que se vê normalmente é um grupo tentar impor ao restante a sua fé. Como conseqüência disso, o que já se matou em nome de Deus é um número impressionante.

E isso acontece não só com religião, mas em várias outras “crenças” desde a política até times de futebol. Lembrem que não estou falando aqui do direito de você acreditar no que quer, mas nessa compulsão que o ser humano tem de tentar fazer com que o outro também acredite naquilo que ele acredita.

Clemente Nóbrega, no seu livro O Glorioso Acidente diz que somos seres replicantes, ou seja, vivemos para nos reproduzir. Essa é a função básica da vida. 

Porém, o que parece a princípio uma coisa simples é na realidade uma coisa muito complicada. Os nossos Pais criaram uma associação onde cada um entrou com 50% de seu DNA. Porém não foi simples chegar a esta associação. A sua mãe queria um homem forte o bastante para defendê-la durante a gravidez, mais e principalmente, ficar junto a ela durante a sua criação. Já seu Pai por dispor de uma quantidade ilimitada de esperma ( a mulher só tem um óvulo por mês e eles tem um número limitado), gostaria de poder ir espalhando ele por ai. Tiveram que fazer um pacto. É por isso que casamento tem tanta pompa e testemunha. Esse acordo permitiu ao seu Pai perpetuar 50% de seu DNA e a sua mãe o mesmo. 

Esse acordo também permitiu que, ai não mais o individuo mas o casal, fizessem acordos com outros desde que isso fosse favorecer o seu crescimento. Quem nunca ouviu a frase, “você não sabe o sacrifício que fiz para criar vocês”.

foto: (google - imagens)

Cabe então a você ficar vivo o tempo suficiente para gerar crias. Você tem que copular, tem que ser bom em achar alimento, tem que ser bom em não se deixar apanhar por predadores. Têm de cuidar de suas crias de modo a que elas próprias cheguem à idade de copular, se não adeus de ao seu DNA nas gerações seguintes.

Acontece, que para nos humanos é muito difícil aceitar que somos nada mais nada menos que simples seres replicantes. 

Não, não é tão simples assim falam muitos! Somos feitos a imagem de Deus, afirmam outros. Todo o universo com seus bilhões de galáxia foi criado só para nos. Não é incrível? A não aceitação dessa simples condição, que envolve todos os outros seres vivos no planeta, nos leva a tentar ficar acima dos outros. Sou o Rei da Antuérpia! Sou o príncipe das Astúrias! Nas minhas veias correm sangue azul! 

Conversa, seu sangue é exatamente igual a um simples plebeu. Seu DNA é só 8% diferente de um Chimpanzé. Isso mesmo 8%! Assim, linhagem Real, nos criamos para nos sentirmos importantes. 

Mas se é assim, o que nos diferenciou dos Chimpanzés? É desse “glorioso acidente” que fala Clemente. Esse “acidente” evolucionário que fez com que a uns dois milhões de anos atrás uma certa espécie de Chimpanzé tenha se desviado de sua linhagem original, fazendo com que em um espaço de pouco mais de dois milhões de anos o celebro mais que triplicou de tamanho. Assim, neste processo esse hominídeo começava a falar, a ter consciência a olhar para o céu e buscar explicações. Por que a criança morreu? Porque o tigre pegou meu amigo? Tinha medo de trovão. Inventava deuses e se esforçava para agradá-los. Sim já inventavam Deuses! 

Hoje achamos ridículo, os Incas adorarem o Sol como um Deus. Porém para eles isso era tão verdadeiro, como é para um Cristão, Jesus Cristo. À medida que o pensamento humano for se sofisticando, irá se sofisticar os Deus.

Resumindo, se você analisar por essa ótica os conflitos humanos, veremos que na base deles vai estar essa simples instrução que esta gravada em seu DNA: 

“E Deus os abençoou e Deus lhes disse: Frutificai, e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a; e dominai sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre todo o animal que se move sobre a terra” G 1.28

Pense nisso!

18 de nov. de 2013

Estamos em Transição ?

Se você olhar com atenção, vai perceber no noticiário diário, que a nossa teia social esta se perdendo, se dissolvendo. Isso se concretiza no avanço das drogas, que agora se especializa por faixas de poder aquisitivo, o avanço da violência que agora esta em todos os seguimentos da sociedade, desde a domestica até as escolas, o desinteresse pela cultura, o aumento na ineficiência do estado, a corrupção generalizada, etc. Infelizmente este é um processo em andamento. Um processo que vem em andamento já a um bom tempo!.

Pensando com os meus botões, voltei para a minha infância e para a educação que recebi. Quando falo em educação, falo em um todo, um conjunto de informações, não só o conhecimento específico, como Física, Química, etc. Eu me refiro alem dessas, o que você aprendia com os seus pais, em especial com a sua mãe, aquela época muito presente na vida dos filhos, pois pouquíssimas trabalhavam.

Na minha infância me foi passado que eu tinha que respeitar os mais velhos. Isso significava tomar a benção aos meus avós e padrinhos. Dar o lugar quando sentado as senhoras e senhores mais velhos. Ajudá-los sempre que necessário. Aprendi com eles, os mais velhos, a importância de se ler. O meu avô paterno me levou a ler O Capital de Karl Max, Minha Luta de Adolfo Hitler, bem como Kant, os russos e outras coisas. Ele dizia ser importante você ler de tudo, para dai formar a sua opinião. Um amigo de meu irmão me introduziu na ficção cientifica. Fiquei fascinado por Edgar Alan Poe, Conan Doyle, bem como Aldous Huxley e Issac Asimov. Li sobre as religiões. Dos monges do Tibe a Alan Kardec. Este foi um habito que nunca perdi. Ler. 

Leio tudo que aparece na minha frente. Até poucos anos atrás, tinha o cuidado, de tempos em tempos, de comprar uma revista sobre arquitetura, outra sobre arte, etc, como forma de me manter atualizado sobre cada assunto.

Aprendi a respeitar a pátria e os seus símbolos. Os colégios onde estudei, aquela época, no primário na admissão e no ginásio, nos rezávamos todos os dias antes do inicio das aulas, comemorávamos o dia da bandeira, da independência, etc. Aprendíamos os hinos da bandeira, do Brasil, das três armas – o que eu mais gostava era o da marinha, O Cisne Branco.

Aprendíamos a respeitar o próximo. Os professores eram respeitados, por que em casa nos era dito para assim fazermos. Se você tinha um problema na escola, com certeza iria ter um problema em casa com seus pais. Os conflitos com colegas de turma eram resolvidos na diretoria da escola. Normalmente quem estava errado, tendo que pedir desculpas ao outro. Estudávamos religião, mais também, historia da arte e civilidade. Praticávamos esportes. Aprendíamos a importância de competir porem com lealdade, o que Paulo Coelho chamou mais tarde de bom combate. Trapaças eram punidas com rigor.

Existia a Feira de Ciências e os Jogos Colegiais. Quase todo mundo praticava um esporte. Tínhamos a Gincana. A feira das Nações. As campanhas de doação de sangue. As escolas públicas eram referencia no ensino, ou seja, não era por ser pobre que você teria um ensino medíocre. Íamos a museus e a vernissages. Discutíamos o trabalho de jovens pintores. Assistir alguns crescerem em sua arte, acompanhando as suas fases.

Aprendíamos a nos manter limpos e arrumados. Havia uma roupa certa para cada ocasião. Casamento de paletó. Baile de final de ano de Smoking ou Summer. Mesmo os mais pobres obedeciam a isso. A minha avó materna nos dizia - Mesmo que a camisa seja velha, se ela estiver limpa e passada, você esta bem. Todos verão que você pode não ter dinheiro para comprar uma camisa nova, mais é educado o bastante para andar com ela limpa e passada. Ninguém andava na rua, pobre ou rico com a camisa desabotoada e muito menos, sem camisa. Se assim o fizesse, seria parado imediatamente pela polícia. Havia um respeito pela “ordem pública” e o decoro.

As drogas eram divididas em duas categorias. A maconha, que era coisa de “maconheiro” ou seja, para a ralé e as drogas pesadas, que na minha juventude era usada por uns poucos muito ricos, que eram intitulados de “loucos”. Ser chamado de maconheiro era pejorativo. Assim, fumei maconha pela primeira vez com o pessoal da peça Hair, para não parecer careta. Não gostei. Deixou-me prostrado, sem energia. As outras nunca tive coragem de provar, por medo de gostar e por consequência me viciar. O negócio era beber. Por causa disso perdi alguns amigos. Nessa época não existia cinto de segurança. Porém bebíamos em finais de semana, nas festas. Havia um certo ritual. Não se bebia a qualquer hora, ou em qualquer lugar.

Naquela época se dava festa, em certa época chamadas de “assustados”. Vivíamos, na escola, no clube, na casa dos amigos e parentes. Podia-se brincar na rua. Havia muito contato pessoal. Na adolescência, muito papo cabeça, principalmente quando descobrimos Freud e Jung. Lembro de uma festa, onde eu e mais dois amigos, amanhecemos o dia discutindo o conceito de Deus. As namoradas dormindo nos sofás da casa. Lembro de outra festa, onde um tio de minha amiga, diplomata já com longa carreira, monopolizou a nossa atenção com as suas histórias de vida. Ao longo da noite se falou sobre arte, música, literatura, etc. Ótima noite. Aquela época, assim como agora tínhamos amigos. Porem amigos com quem convivíamos pessoalmente. E amigos com interesses! Era gente animada com a vida, cheia de projetos e sonhos. Não me lembro nessa época de saber de meninas obesas mórbidas ou com bulimia.

Agora chega do passado e vamos olhar essas mesmas coisas hoje e vistas de uma forma abrangente.

Passado o regime de exceção e montada a nossa nova realidade, o que temos hoje?

Não precisa ser nenhum gênio para ver que tudo isso mudou e mudou para muito pior. A ordem pública e o decoro foram perdidos. Ninguém respeita os mais velhos. Implantou-se na sociedade, a Lei de Gerson. As escolas, hoje mal conseguem prover o conhecimento específico. Estão preocupadas é com os boletos das mensalidades. A cultura de uma forma geral, perdeu a importância. A maior prova disso é o orçamento do Ministério da Cultura e as pessoas que são nomeadas para ele. Se você prestar atenção nas fotos publicadas nas revistas de decoração, você não verá mais nenhum quadro. Nenhuma tela, ou peça de arte. As pessoas por não terem adquirido cultura, delegam a decoradora, a função de preencher os espaços vazios nas paredes. Isso cria situações como a que vivi com uma amiga. Em seu aniversário, a presentei com um quadro. Quadro mesmo, original. O comentário dela foi: minha decoradora vai adorar, pois ela estava querendo alguma coisa colorida para colocar naquela parede.

Sei que o comentário dela foi sincero. Não é impressionante? 

Não existe o respeito pelos mais velhos, e o que pior o respeito pelos pais. Ser educado, hoje é ser babaca !! Você pode comprovar isso em qualquer transporte público. O índice de estupro sobe ano a ano. Na realidade se perdeu o respeito por qualquer coisa. 

A juventude não tem o que fazer, a não ser ir pro Shopping. Isso se tiverem condição financeira para tanto. A diversão fora o shopping é a balada. A droga rola solta. Nas escolas não existem outras atividades extracurriculares. 

Na coisa pública reina o caos. Nada mais funciona e tudo virou negócio de família. Agora é moda o pai ser Senador o filho Deputado Federal o sobrinho Deputado Estadual, a prima Vereadora e por ai vai. As verbas publicas agora são privadas. Todos os dias aparecem na imprensa historias impressionantes. Ninguém em cargo de chefia, tem a menor preocupação em administrar nada. Quando acontece algum problema, acreditam que simplesmente explicar o que aconteceu e dizer que será tomado providências resolve. A carga tributária vem aumentando continuamente e os serviços e infraestrutura vem se deteriorando cada vez mais. O nível de roubo é assustador, isso sem considerar o uso da estrutura pública em benefício próprio. Um exemplo primoroso disso é o gasto com os nossos Senadores e Deputados. Um dos congressos mais caros do mundo. A Previdência é um rombo, o SUS um sumidouro de dinheiro e por ai vai.

Uma coisa que esta em moda atualmente é a questão do regime militar. Não me preocupa passar a limpo o passada, pois nos dois lados não existiam santos. De um lado a tortura se justificava para salvar a pátria do perigo comunista, e do outro, soltar bomba e assaltar banco se justificava para financiar a implantação de uma ditadura, sim ditadura comunista. O que Cuba é?

O que me preocupa é a aniquilação de todos os meios que a sociedade civil tinha de se manifestar. Hoje, entidades que no passado tinham representatividade, como a UNE, a OAB, o CREA e muitos outros se calaram. A imprensa nem se fala. Hoje estão preocupados ou de pressionar o governo atrás de verba de propaganda ou de atrair o publico para poder vender caro os espaços publicitários. Uma pergunta; para que o governo precisa gastar mais de um bilhão de reais em propaganda todos os anos? A quem interessa isso?

Essas organizações são hoje uma pálida sombra do passado, para usar um bordão. Em cada uma delas impera a Lei de Gerson, ou seja, olham para elas mesmas e seus dirigentes têm interesses próprios. Os sindicatos nem se fala. Dos 125.000 cargos de confiança do governo federal, eles detêm mais de 65%. Abrir um sindicato hoje é um ótimo negócio.

Podia ficar aqui escrevendo sem parar por dias. Exemplos de corrupção, impunidade, desmandos com a coisa publica, falta de respeito ao cidadão, exemplos de ineficiência, etc. são diários na mídia e fora dela.

Zigmunt Bauman diz que não sabe se estamos em uma fase de transição para uma nova sociedade, com nova ordem social ou se o que vivemos, será um estado permanente. Eu rezo para que a primeira hipótese seja a verdadeira.

Um último comentário:
Precisamos nos lembrar, que para haver mudança, tem que existir o agente da mudança.

Pensem nisso!!

Recife Noturno | Av Guararapes

11 de nov. de 2013

Rotary – uma engrenagem a serviço da humanidade.

É com grande satisfação, que parabenizo aos amigos que compõem o RC do Recife – Espinheiro pela realização de mais uma ação social.

A ação conhecida como “RYLA - rotary youth leadership awards “ ou no bom português: Premios Rotários de Liderança Juvenil, busca despertar no jovem excluído das oportunidades e marginalizado, uma visão de que ele pode ser o principal agente na construção do seu próprio caminho. Para tal é desenvolvido um wokrshop, aonde os jovens discutem questões relacionadas à responsabilidade profissional e relações humanas, incrementam as suas habilidades de liderança, comunicação e comportamental, bem como são apresentados a historias que levaram pessoas e empresas a terem sucesso.

Parabéns em particular a Rotariana Cristina Carvalho, profissional competente no mundo empresarial, esposa do querido amigo Elísio Nunes, por ter capitaneado tal ação.

Recife Noturno | Praça Maciel Pinheiro

7 de nov. de 2013

O Estado da Arte

Galeristas e colecionadores veem o decreto como agressão ao direito privado.

Um decreto publicado no Diário Oficial da União pela presidente Dilma Rousseff no último dia 18 muda consideravelmente os conceitos de coleções pública e privada de arte, além de modificar as noções de posse, de mercado internacional, de comercialização e, possivelmente, também de apreçamento de obras.

Obras da casa do ex-banqueiro Edemar Cid Ferreira, em 2011.
(Foto: Paula Pacheco)

Pelo decreto (que regulamenta a Lei 11.904, de 14 de janeiro de 2009, que cria o Estatuto de Museus do País), de agora em diante, podem ser declarados de interesse público os bens que atualmente estão em museus (musealizados) públicos e privados e também os que ainda não estão em museus, mas em coleções particulares. Enquadram-se na lei todos os objetos de arte “cuja proteção e valorização, pesquisa e acesso à sociedade representarem valor cultural de destacada importância para o País, respeitada a diversidade cultural, regional, étnica e linguística”.

Em resumo: caso seja definido como “de interesse para o País”, uma tela, uma escultura ou outros bens poderão começar a ser monitorados pelo Estado brasileiro, por meio do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram, órgão do Ministério da Cultura). A venda das obras terá de ser aprovada pelo governo. Mas o nó górdio da coisa toda, o que está causando maior polêmica, é o seguinte trecho do decreto: o proprietário da obra de arte “não procederá à saída permanente do bem do país, exceto por curto período, para fins de intercâmbio cultural, com a prévia autorização do Conselho Consultivo do Patrimônio Museológico ou, caso se destine a transferência de domínio, desde que comprovada a observância do direito de preferência do Ibram”.

O texto colocou em polvorosa colecionadores, museólogos, leiloeiros e outros profissionais da área de artes visuais. O proprietário ou responsável pelo bem cultural declarado de interesse público, após ser notificado de que sua coleção é agora protegida, não poderá vender, restaurar ou emprestar sem comunicar o Ibram. E deverá manter informado o Estado sobre a condição da peça, sob o risco de ser responsabilizado nas esferas administrativa, civil e penal pelos prejuízos causados. A edição do decreto levou 4 anos de estudo, segundo o governo, que informou que não se trata de exercer preferência, mas de “salvaguardar determinados bens”.

De todos os artigos do decreto que regulamentou a lei 11.904, o que mais agitou o mercado diz respeito à manutenção de um cadastro específico dos bens declarados de interesse público que poderá, segundo o dispositivo legal, fazer parte de outros instrumentos da política nacional de museus. Embora exista quem considere o cadastro positivo - principalmente para monitorar obras desaparecidas -, que outros instrumentos da política de museus poderiam ser acionados para monitorar peças de arte? Essa é a pergunta de galeristas, marchands, colecionadores e até diretores de museus consultados pelo Caderno 2, apreensivos diante dos amplos poderes concedidos ao Ibram por um cadastro desse tipo.

Segundo a lei, ele será usado "para fins de documentação, monitoramento, promoção e fiscalização" desses bens. Qualquer interessado, além do proprietário de uma obra de arte, poderá requerer ao Ibram a instauração de um processo administrativo para declarar de interesse público um bem cultural. No momento em que o mercado internacional disputa obras de artistas brasileiros em leilões e feiras de arte, aqui e lá fora, é natural que artistas e donos de galeria vejam o decreto como uma intervenção negativa do governo na esfera privada - o artigo 39 da referida lei permite ao Ibram, por exemplo, realizar "inspeção administrativa" no local onde se encontre o bem cultural.

"Isso me parece invasão da privacidade", diz a galerista Marília Razuk, argumentando que a exportação de obras de arte não deve ser vista como danosa para o País. Ela lembra que obras iconográficas como Abaporu, tela de Tarsila do Amaral, ou a coleção de arte concreta de Adolpho Leirner, foram oferecidas a museus brasileiros antes de serem vendidas para museus estrangeiros. "A venda de obras brasileiras a colecionadores e instituições estrangeiras agrega valor", observa a galerista. "Acho que todo mundo vai mandar suas coleções para Miami com esse decreto."

Fato semelhante aconteceu durante o governo Hugo Chávez, que buscou atingir colecionadores milionários resistentes à política do líder venezuelano, expropriando seus acervos. Grandes coleções privadas da Venezuela foram enviadas aos EUA antes do decreto chavista. Até hoje, colecionadores venezuelanos cedem obras para exposições internacionais na esperança de vender seu patrimônio fora do país.

O advogado Saulo Kibrit, diretor da Bienal de São Paulo e também colecionador, avalia que o decreto configura uma "desapropriação indireta" das obras de arte privadas. "Restringe o direito da propriedade e pode gerar indenização", afirma Kibrit, que prevê uma "briga danada" pela frente. "Quem é que vai querer comprar algo que é restrito? A lei restringe o seu direito".

"O irônico é que as peças que estão na mão do governo estão em péssimo estado. Basta ver o que acontece com os Profetas de Pedra lá de Congonhas do Campo", afirmou o empresário Renato Whitaker, que era o maior colecionador privado de obras do Aleijadinho até anos atrás, com 52 peças. "Me desfiz de quase toda a minha coleção. Aqui, o colecionador é um fora da lei, jogam sobre ele essas leis todas para tirar aquilo que ele encontrou e preservou. Obras que estão nas mãos de particulares estão bem melhor do que nas mãos do governo", afirmou Whitaker.

O advogado Pedro Mastrobuono, cuja família é conhecida colecionadora das obras de Volpi, considera positiva a ideia do banco de dados do Ibram, mas prevê uma enxurrada de ações legais no Judiciário contra o decreto, pois "ele cria um atrito com dispositivos legais superiores que preservam a propriedade privada". Outro item criticado por ele diz respeito ao direito de imagem. "Ele continua sendo do autor e da família, no caso de sua morte, por 70 anos, e a reprodução das obras seria uma usurpação desse poder."

O curador-chefe do Masp, Teixeira Coelho, implica com a "fúria legislativa" do Brasil e o decreto, que obriga proprietários de obras a notificar as que, eventualmente, sejam de interesse público. "Se um colecionador não quer publicidade, é um direito dele." No momento em que uma obra se insere nesse escopo, qualquer curador, diz ele, terá dificuldades para organizar exposições, pois os colecionadores vão naturalmente se retrair e deixarão de emprestar obras aos museus.


PRINCIPAIS PONTOS

Início
Após processo administrativo, o dono do bem é
notificado da declaração de interesse público

A cobrança
Após homologação pelo Ministro da Cultura, começa
a cumprir as condições (e ser fiscalizado)

As restrições
Obra não pode ser restaurada ou vendida sem consulta prévia

As penalidades 
Caso não cumpra lei, dono é responsabilizado civil e penalmente


Artigo publicado pelo jornal, O Estado de S.Paulo.
Autoria de: Antonio Gonçalves Filho e Jotabê Medeiros.
Em 31 de outubro de 2013 as 03:28.

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